Lipedema: o que é?
O Lipedema é uma doença que se caracteriza por uma acumulação desproporcional de gordura nas extremidades, mais frequentemente nos membros inferiores; em 30% dos casos, pode envolver os membros superiores. Ocorre de forma simétrica (as duas pernas, as duas coxas ou os dois braços) e poupa sempre os pés e as mãos, que não acompanham o aumento de volume.
Por vezes confundida com obesidade, esta doença é pouco divulgada, subdiagnosticada e muito negligenciada por parte dos profissionais de saúde. As pacientes relatam que não conseguem perder volume nas pernas, apesar de se empenharem em dietas rigorosas e da perda ponderal que conseguem alcançar, graças à perda de volume noutras áreas do corpo. Surgem habitualmente desanimadas e frustradas pois o seu caso é encarado como obesidade (ou até retenção de líquidos) e a sua não resolução é atribuída a “falta de esforço”.
Muitas pacientes sofrem de Lipedema há anos, sem o saberem. Além da importância do diagnóstico e tratamentos precoces, importa considerar que se trata de uma doença genética, crónica e que oscila de acordo com diversos fatores (hormonal, stress, ansiedade, nutrição, entre outros gatilhos que são identificados em cada caso individual).
Ainda que pareça uma doença nova, de descoberta recente, o Lipedema foi descrito pela primeira vez na Clínica Mayo, por Allen e Hines, em 1940.
A Dra. Joana de Carvalho e o Prof. Doutor Sérgio Sampaio são médicos de referência no diagnóstico e tratamento do Lipedema. Acompanham todos os desenvolvimentos no conhecimento da doença promovido pela comunidade científica internacional, de que é exemplo o mais recente Congresso Mundial de Lipedema, realizado em Potsdam (Berlim | 5-7 de outubro, 2023), em que marcaram presença.
Os quatro estágios de Lipedema
Quando a doença não é tratada, os sintomas podem aumentar ao longo dos anos. Esta é uma doença que pode atingir 4 diferentes estágios:
- Estágio I: a pele é lisa/suave, apresentando dor leve e hematomas menos frequentes; o inchaço aumenta durante o dia e pode diminuir com o descanso e a elevação dos membros; a drenagem linfática apresenta grandes resultados; responde bem ao tratamento.
- Estágio II: a pele tem marcas de “celulite”; presença de dor e hematomas mais frequentes; o edema aumenta durante o dia, com melhoria parcial após repouso e elevação dos membros; pode responder bem ao tratamento.
- Estágio III: o tecido conetivo está endurecido; presença de dor, alterações posturais e edema presente e persistente; grandes áreas de gordura que se sobrepõem; menos responsivo a algumas modalidades de tratamento.
- Estágio IV: fibroesclerose, possivelmente com associação ao Linfedema; edema consistente presente; todos os sintomas aumentados além de alterações incapacitantes na qualidade de vida; grandes áreas de gordura que se sobrepõem; também conhecido como Lipo-linfedema; menos responsivo a algumas modalidades de tratamento.
Os cinco tipos de Lipedema
A distribuição desproporcional da gordura típica do Lipedema é dividida em cinco tipos, de acordo com a área de acometimento, sendo que alguns pacientes podem ser classificados em mais do que um tipo:
- Tipo I: Pélvis, glúteos e anca;
- Tipo II: Glúteos até os joelhos com presença de tecido adiposo na parte lateral e inferior dos joelhos;
- Tipo III: Glúteos até tornozelos;
- Tipo IV: Braços;
- Tipo V: Perna inferior.
Causas
Esta doença atinge, de modo exclusivo, as mulheres. Ainda que não se tenha estabelecido de modo definitivo uma causa, indicia ter uma componente hereditária significativa, ligada ao sexo feminino.
De facto, na maioria dos casos, há alguém na família com o mesmo problema; por conseguinte, as pacientes relatam frequentemente em consulta: “este formato de perna já é de família”.
Também o início da doença e/ou o seu agravamento é notado em momentos na vida das mulheres caracterizados por alterações hormonais súbitas e significativas como: a puberdade, o início da toma de anticoncecional oral, a gravidez e, em fases mais avançadas da vida, a menopausa.
O lipedema parece também estar relacionado com uma resposta inflamatória crónica de baixo grau a eventuais toxinas alimentares. A verdade é que o processamento alimentar evoluiu muitíssimo nas últimas décadas e o nosso organismo não conseguiu acompanhar tal evolução. Assim, a par de outras condições como a síndrome do cólon irritável ou síndromes dolorosas crónicas, pode constituir uma forma de defesa e de alerta do nosso corpo.
Muito longe de ser uma condição meramente estética, a progressão desta doença “das pernas gordas” pode levar a grande prejuízo da qualidade de vida e a dificuldades de marcha por alteração das articulações.
Lipedema: Sintomas
Para além do acúmulo desproporcional de gordura, esta doença faz-se acompanhar de:
- sensação de peso e de cansaço nas pernas;
- dor e de uma sensibilidade exagerada ao toque, de acordo com o estado de inflamação que se acredita que caracteriza a doença;
- sensação de arrefecimento da pele das pernas;
- aparecimento de equimoses (pisaduras) fáceis e frequentes.
Fotos Lipedema: antes e depois
Cirurgia de Lipedema da perna, técnica WAL, 3 meses após intervenção
Tratamentos para o Lipedema
Após confirmada a doença, é elaborado o plano individual de tratamento, que poderá ser um tratamento conservador (que inclui plano alimentar anti-inflamatório, exercício físico adequado, massagem, drenagem e suplementação), ou, em último caso, recorrendo à Lipoaspiração específica para Lipedema, já numa fase estável da doença, para controlo dos sintomas, redução do volume, melhoria da qualidade de vida e autoestima.
São várias as especialidades que integram a equipa multidisciplinar de tratamento do Lipedema:
- Cirurgia Vascular – diagnóstico;
- Nutrição – dieta anti- inflamatória;
- Nutrigenética – identificação dos alimentos e agentes que podem estar por detrás do processo inflamatório e sugestão de suplementação adequada;
- Fisioterapia Dermatofuncional – drenagem pré e pós-operatória, facilitando a recuperação e exponenciando a qualidade dos resultados;
- Cirurgia Plástica – Lipoaspiração específica para o Lipedema.
Tratamento Conservador do Lipedema
Há várias medidas não invasivas que podem ser adotadas para melhorar não só a vertente estética, mas também as queixas de dor e de desconforto.
Tal como o exercício físico, a Nutrição é um dos pilares do tratamento conservador do Lipedema e, embora não tenha uma influência direta na distribuição desproporcional de gordura, a alteração dos hábitos alimentares pode ser uma mais-valia na redução da dor e inflamação, melhorando o prognóstico e a qualidade de vida.
Através da Nutrigenética, pode ser feita a avaliação do seu perfil genético, o que permite compreender a sua bioquímica e fisiologia únicas. Tal conhecimento permite definir a estratégia mais adequada a cada paciente.
A Fisioterapia tem uma ação importantíssima no tratamento conservador e no pós-operatório desta doença, para tratar e amenizar os desconfortos causados pelo Lipedema.
Tratamento cirúrgico do Lipedema
A abordagem cirúrgica do Lipedema está indicada quando, apesar do tratamento conservador, há persistência dos sintomas com uma interferência significativa na qualidade de vida.
As técnicas cirúrgicas para o lipedema são específicas e devem ser realizadas por cirurgiões com experiência e conhecimento da doença. As técnicas existentes incluem a lipoaspiração e a cirurgia redutora.
Médica Especialista
em Lipedema
Dra. Joana de Carvalho
- Licenciada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
- Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular
- Fellow of the European Board of Vascular Surgery
- Member of the College of Phlebology
Médico Especialista
em Lipedema
Prof. Doutor Sérgio Sampaio
- Licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
- Doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
- Especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular
- Fellow do European Board of Vascular Surgery