Diabetes Mellitus: cuidados a ter durante o Verão
Sofre de Diabetes Mellitus e vai viajar?
O verão é uma época em que todos devemos adotar cuidados especiais de forma a evitar algumas complicações de saúde. Porém, no caso das pessoas que sofrem de doença crónica e, em especial, de Diabetes Mellitus, esses cuidados devem ser redobrados.
Uma boa alimentação e boa hidratação são, desde logo, essenciais.
Doenças crónicas: cuidados gerais
De facto, qualquer pessoa que sofra de uma doença crónica deve adotar cuidados especiais, sempre que planeie ir de férias:
- Levar medicação em quantidade suficiente para os dias em que vai estar fora e mais alguma (sensivelmente o dobro da quantidade, para precaver quaisquer contratempos que obriguem a uma estadia mais prolongada);
- informar-se acerca dos recursos de saúde e do seu funcionamento no local de destino (locais de atendimento hospitalar ou clínicas), para qualquer situação de emergência médica;
- fazer previamente uma consulta com o médico assistente para saber se é necessário fazer algum ajuste na medicação;
- fazer a consulta do viajante, se o local de destino a isso obrigar;
- levar o cartão europeu de saúde. Pode requerer este cartão gratuitamente através da Segurança Social Direta (devendo apenas confirmar os países europeus aderentes);
- transportar a medicação consigo no avião (caso viaje com recurso a este meio de transporte). Por um lado, a temperatura do porão é a ideal, podendo danificar a medicação; por outro, existe a possibilidade de se perderem as malas.
- levar a devida declaração médica (sobretudo para alguns países), em português e inglês;
- ter consigo um cartão com o registo de toda a medicação e com as doenças conhecidas, em inglês e em português;
- ponderar um seguro de saúde de férias (dependendo de cada caso, do destino em questão, das atividades em vista, etc.
- ter um número de telefone de contacto em caso de emergência.
Diabetes Mellitus: cuidados específicos
No caso das pessoas que sofrem de Diabetes Mellitus, há outros cuidados que também se impõem. Desde logo, caso pretenda viajar, deve levar as tiras teste de glicemia, corpos cetónicos, consumíveis da bomba, medidor de glicemia (2) com pilha, cabo, carregador.
Por outro lado, se fizer medicamentos que possam causar hipoglicemia (insulina, sulfonilureias), há que tentar evitar as hipoglicemias. Assim, deve:
- levar sempre o glucagen (injetável; já existe, também, a opção nasal) e pacotes de açúcar, sumo de laranja, água, pão, tostas, fruta;
- ter em atenção o número de horas sem comer e o exercício físico que possa estar a planear realizar – a opção mais sensata será levar sempre uma marmita;
- saber fazer a correta correção de hipoglicemias e informar as pessoas com quem viajam (15g açúcar ou 200mL de sumo açucarado, 15 minutos, repetir o procedimento até o valor estar corrigido) e comer hidratos de carbono lentos com uma proteína / gordura boa; voltar a confirmar mais frequentemente ao longo desse dia;
- monitorizar a glicemia frequentemente (por exemplo de 3 em 3 horas); levar sempre consigo lancetas e tiras de pesquisa de glicemia / corpos cetónicos em número (mais do que) suficiente;
- ter em atenção os fusos horários e agendar com a devida antecedência consulta com o médico assistente para planear a viagem da melhor forma;
- queixas a ter em atenção: fraqueza, fome, trémulo, suores frios, palpitações, palidez, visão turva, dor de cabeça, irritabilidade, confusão mental;
- não expor a insulina diretamente ao sol (acondicionar em sacos ou malas térmicas mas nunca colocar em contacto com o gelo);
- não expor o medidor de glicemia nem as tiras de teste ao sol;
- se utiliza bomba perfusora de insulina e a desconectou, não deve deixar exposto ao sol nem o aparelho, nem os cateteres.
Cuidados especiais com o álcool
Tenha especiais cuidados com a ingestão de álcool, que pode levar a hipoglicemia se o estômago estiver vazio ou a hiperglicemia quando tomado com as refeições (o álcool tem calorias e açúcar, além de estimular a ingestão de comida).
O excesso de álcool pode causar hipoglicemia, sobretudo nas pessoas com diabetes mellitus tipo 1. Evite o consumo de álcool após a prática de exercício físico, uma vez que está ainda mais propenso a hipoglicemia.
Uma alternativa poderá ser beber devagar, misturar com água ou gelo (engarrafados), moderar a ingestão, acompanhar sempre com comida.
Diabetes Mellitus: recomendações para os dias de calor
Relativamente à prática de exercício físico, deve optar por roupa e calçado confortáveis (calçado de pele e idealmente fechado, meias sem costuras, de algodão e brancas). Desejavelmente, deve praticar exercício sem se expor ao sol ou no início da manhã ou ao final do dia, com uma temperatura mais amena (se puder conjugar com boa ventilação ou ar condicionado, tanto melhor).
Quanto ao Protetor solar, além de todos os cuidados habituais, há que evitar queimaduras solares, uma vez que poderão aumentar os valores de glicemia.
Nos diabéticos, a hidratação é uma questão fundamental. Assim, hidrate-se frequentemente, mesmo sem sede (afinal, sede significa já desidratação). Se a diabetes estiver descompensada, há maior risco de desidratação; ora, nos dias de maior calor, maior risco ainda existirá.
Os rins aumentam a quantidade de urina, com o objetivo de eliminar o açúcar em excesso, o que leva a maior saída de água do organismo (por este mesmo motivo, quando a diabetes está descompensada, uma das queixas mais frequentes é polidipsia, sede em excesso).
Deve estar-se particularmente atento a queixas como boca seca, olhos secos, dor de cabeça, urina escura, sensação de fraqueza, desmaio.
As pessoas que façam fármacos diuréticos ou outros que aumentem o risco de desidratação devem ter em atenção esta questão. Não convém ingerir bebidas açucaradas nem refrigerantes (que aumentam ainda mais a desidratação pelo aporte de açúcar). Evitar o álcool e café que estimulam a diurese (excreção de urina).
Diabéticos: atenção aos pés!
Vigie os pés, andando calçado sempre que possível. A neuropatia periférica sensitiva resulta em diminuição da sensibilidade, logo queimaduras poderão ocorrer além de outras lesões (calçado não adequado / não inspeção do calçado).
Além disso, uma vez que se utiliza calçado aberto no verão, há maior risco de ferimentos, picadas de insetos ou escoriações.
Deve-se vigiar diariamente os pés, utilizar meia branca (para ver se tem algum exsudado ou sangue) ou, eventualmente, pedir a alguém que inspecione os pés.
Golpes de calor
É importante referir ainda que os golpes de calor poderão ter maior probabilidade de ocorrer se houver complicação vascular ou nervosa da Diabetes ao nível das glândulas sudoríparas (não produzem suor o que leva a que o organismo não arrefeça como devido).
Se sofre de Diabetes Mellitus e vai de férias, tenha especial atenção a estas recomendações. Cuide da sua saúde e marque hoje mesmo consulta com um especialista em Endocrinologia.
Dra. Joana Menezes Nunes
- Licenciada em Medicina e Cirurgia com formação específica em Endocrinologia
- Frequentou cursos e reuniões nacionais e internacionais no âmbito da Endocrinologia
- Distinguida com prémios de mérito científico
- Autora do livro “Do XL ao S”
- É presença assídua em programas de televisão, rádio e podcasts.